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segunda-feira, 16 de maio de 2011

matéria do Jornal o norte dezembro 2010

ShowEdição de segunda-feira, 20 de dezembro de 2010 
Um naïf original
Luiz Tananduba não aceita rótulos nem influências, e diz que, na pintura, o que importa é a verdade do artista


A pintura naïf, primitiva ou ingênua caracteriza-se, entres outras coisas, por serem os artistas que a produzem autodidatas descompromissados com os imperativos acadêmicos, tanto de natureza técnica, como teórica. Isso não quer dizer, no entanto, que o pintor naïf esteja livre, para fazer o que bem entender, frente a uma tela. Para merecer esse status, ele precisa ser "verdadeiro", ou seja, expressar seus sonhos e sentimentos com poesia, originalidade e, acima de tudo, ser obediente às próprias leis da pintura - equilíbrio nas cores e na volumetria, por exemplo -, inerentes a quaisquer categorias.


Tananduba apresenta uma de suas telas inspiradas em tema natalino, em exposição na Galeria Gamela. Os detalhes "florais" tornam sua pintura única no gênero Foto: Fabyana Mota/ON/D.A Press
O paraibano Luiz Tananduba consolidou seu nome no cenário brasileiro da arte naïf exatamente por ser um portador nato dessas qualidades. Obstinado, ele aprendeu a pintar sozinho, fazendo dos erros a sua grande escola. O resultado, após mais de trinta anos de atividades, é uma pintura de caligrafia única, onde os motivos rurais, inspirados nas fazendas em que viveu, quando criança, ganham contornos oníricos, em tonsmarcadamente azuis, vermelhos, roxos, verdes e amarelos, com destaque para a flora, com seus tufos de capins e suas árvores de sebes arredondadas, sem igual entre os seus pares.

"Eu acho que a minha sorte foi não saber nada de pintura. Se você não sabe pintar, o segredo é descobrir", afirmou Tananduba, em entrevista exclusiva que concedeu na Galeria Gamela, em João Pessoa, onde participa, atualmente, de uma exposição coletiva de artistas paraibanos. É que, para ele, quando se sabe pintar, naturalmente se é um seguidor de alguém. "Você começa a querer fazer algo que foi feito por aquele que você seguiu, porque qualquer técnica que se aprende de outro é algo passado. Alguém lhe ensinou toda uma base", completou.

Tananduba é filho adotivo de um dos maiores artistas naïfs do Brasil, o também paraibano Alexandre Filho. Mas nem de Alexandre, a quem admira muito como pai e artista, ele quis ser discípulo. Não se nota na pintura de Tananduba um detalhe sequer que faça referência à pintura de Alexandre. "A preocupação de Alexandre com o meu fazer artístico foi de comentar o resultado, ou seja, de dizer apenas se estava bom ou ruim. Ele não me deu orientações técnicas tipo 'tem que usar isto ou aquilo'. Ele chega para mim e diz: 'Olha, isso está muito ruim'. Ou então: 'Isso está muito bom'", explicou.

O acaso fez de Tananduba um artista. Ele nasceu em Caiçara, em 1972, e, dez anos depois, foi morar com Alexandre, em Guarabira, no Brejo Paraibano. Impedido de estudar por um problema de saúde, foi aconselhado, pela professora, a ficar desenhando, até se recuperar. Ele gostava muito de observar os desenhos feitos a giz de raiz de mandioca nas paredes das casas de taipa, e começou a criar formas idênticas, além de recriar o que via na televisão, sobre papel. "Eu achava interessante, porque Alexandre me deixava muito livre. Ele dizia: 'Pinte o que você quiser; faça o que você quiser', relembrou.

A sorte bateu à porta da casa de Tananduba pelos dedos do pintor Hermano José, mestre de várias gerações de artistas paraibanos, que ali chegou, nos idos de 1985, acompanhado de Raimundo Nonato (já falecido), à época diretor geral de Cultura da Prefeitura de João Pessoa. "Alexandre me pediu para mostrar os desenhos para ele. Hermano ficou louco e comprou logo dez trabalhos. Aí Raimundo Nonato disse: 'Hermano é muito difícil, para ele comprar um trabalho de alguém é coisa complicada. Se ele comprou dez é porque o trabalho é muito bom'", contou.

A compra de Hermano foi um marco simbólico na vida de Tananduba. Ele não só foi reconhecido como artista bom por um mestre, como reconheceu a si mesmo como um bom artista. Em 1991, por sugestão de Alexandre, inscreveu três trabalhos no Salão Municipal de Artes Plásticas (Samap), sagrando-se vencedor, por unanimidade do júri formado por Raul Córdula, Heitor Reis, Gabriel Bechara Filho e Chico Liberato, do Prêmio Artista Promissor Paraibano. Ainda assinava como Luiz Antônio, mas inscreveu os trabalhos como Luiz Tananduba, por considerá-lo mais expressivo.

Na direção certa

De lá para cá, Tananduba já participou de 45 exposições coletivas. Individuais ele ainda não fez porque, até acha chato dizer, vende todos os trabalhos tão logo eles ficam prontos. "Todo artista vende - esclareceu ele -, só que eu sou lento, eu não pinto rápido, por isso que o meu trabalho atingiu um certo nível, porque eu não sou muito de pintar rápido. Mesmo quando eu preciso pintar rápido eu faço um trabalho, se for pequeno, em dez dias. Eu faço cinco seis telas e vendo, e aí eu começo a fazer tudo de novo, cinco seis telas novamente e, quando chega em dez, chega uma pessoa aqui na galeria e compra todos".

Atualmente, Tananduba tem trabalhos em exposição na Galeria Pontes, em São Paulo. Tudo começou com um convite para participar da exposição coletiva de inauguração da Pontes, intitulada Olhar Ensolarado, realizada no final de 2008. Ele enviou seis trabalhos e vendeu todos. O acervo da mostra rendeu o livro Arte Popular Brasileira (Décor), com seis páginas dedicadas ao artista paraibano. Em julho passado, a Pontes fez nova coletiva, com o título Roupa de Domingo, e Tananduba foi o único paraibano a participar da mostra, que também será documentada em livro, com lançamento previsto para 2011.

Em 2007, Tananduba participou, como convidado especial, da Bienal Naïfs do Brasil, em Piracicaba (SP), figurando em uma sala especial. Este ano, ficou com o Prêmio Aquisitivo da Bienal de Pequenos Formatos do Sesc, em João Pessoa, concorrendo com 130 artistas. "Foi muito bom porque, geralmente, eu não participo de Salão, porque minha produção é pouca, mas como era de pequeno formato, deu para produzir em três ou quatro dias. O prêmio é um incentivo, mostra que o que você pensa sobre o seu trabalho está correto. Só vivo de arte. E vendo muito, porque pinto pouco", brincou.




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